Você já deve ter ouvido falar que a corrida é uma atividade física benéfica que melhora a saúde cardiovascular e o bem-estar geral. No entanto, existe uma preocupação sobre o efeito do impacto desse tipo de atividade nas articulações do quadril, joelho e tornozelo. Por existir uma alta incidência de lesões decorrentes da prática da corrida nas articulações dos membros inferiores, imagina-se que, ao longo do tempo, ocorre um prejuízo na saúde da cartilagem, contribuindo para o aparecimento precoce da osteoartrite. Mas será que isso é verdade?
Revisões recentes na literatura têm mostrado que não existe associação entre a corrida recreativa e o maior risco de desenvolver osteoartrite do joelho. Outro ponto é que esse tipo de exercício, que coloca carga na articulação, não parece ser prejudicial para a cartilagem do joelho em pessoas com risco ou que possuem osteoartrite de joelho diagnosticada. Além disso, a corrida parece reduzir a probabilidade de osteoartrite coxofemoral e o risco de artroplastia total de quadril.
Mas como isso é possível se a corrida tem tanto impacto nas articulações?
De acordo com os estudos, isso pode ser explicado pela capacidade que a cartilagem tem de sustentar e se adaptar à carga. Um artigo de revisão sistemática publicado em agosto de 2021, na revista Sports Medicine, investigou o assunto e concluiu que as alterações na cartilagem dos membros inferiores após a corrida são transitórias.
Tais estudos avaliam as propriedades da cartilagem a partir de exames de imagem, como a ressonância magnética. Assim, é possível detectar de forma precoce as mudanças não só de volume e espessura após a prática da corrida, mas também as mudanças na sua composição. Isso dá informações muito relevantes sobre a estrutura e o comportamento da cartilagem, bem como mecanismos de adaptação em resposta à atividade de carga em curto e longo prazo.
A análise qualitativa dos artigos incluídos na revisão da literatura sugere que a corrida pode causar, sim, uma redução imediata no volume e espessura da cartilagem do joelho, no entanto, essas mudanças não persistiram. As análises também indicaram que a exposição repetida à corrida influencia pouco na morfologia e composição da cartilagem. Apesar das evidências conflitantes sobre as lesões da cartilagem do joelho pré-existentes, evidências moderadas sugerem que a corrida não leva à formação de novas lesões. Outra conclusão dessa revisão é que a exposição repetida à corrida não causou alterações na espessura ou composição da cartilagem do pé e tornozelo.
Com base nos estudos feitos até o momento, os pesquisadores concluíram que as alterações na cartilagem dos membros inferiores após a corrida são transitórias. As mudanças imediatas que acontecem na forma e composição da cartilagem não persistem e geralmente não são significativas.
Isso sugere que a cartilagem se recupera bem de uma única corrida e se adapta a exposições repetidas e que correr não leva a novas lesões. Claro que a corrida deve ser realizada em intensidade adequada para cada caso e sempre é recomendado o acompanhamento de um profissional para evitar outros tipos de lesões.
Referência bibliográfica: https://link.springer.com/epdf/10.1007/s40279-021-01533-7?sharing_token=070cQ5kZzJfKDe1tMk-xa_e4RwlQNchNByi7wbcMAY4wApGTNDgFNgE8EvpUbOXix0W5pydH6ZOt1rUTsbH_b4BT4rQUJa6IObzICZfXlc5-YP-yJrTohnxLZpHl7YMeHH-aWeRQweqr1Rqu0IJIGwA-jKYC6OdzF9Ro1IT62Ms%3D
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